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UM FILME É UM FILME – cinema e literatura: relações

In Uncategorized on 22/06/2009 at 3:14 am

certo, seria de bom tom falar em supressão de uma linguagem em relação a outra? cinema é linguagem?

ok, vamos ao dicionário ver o que significa a palavra SUPRIMIR. sinônimos: cortar, riscar; omitir, não mencionar; anular, cassar, abolir, extinguir; impedir de aparecer, de ser publicado. pegando esse gancho, a gente pode inferir o quê, que se um filme for literatura anularemos todo e qualquer traço que o caracteriza como filme, como outra linguagem, a qual não surgiu assim de uma hora pra outra, mas foi (e é) resultado de um processo histórico. cinema é linguagem! possui seus próprios meios de comunicar com o leitor/espectador.

a literatura realiza ‘imagens mentais’, o cinema materializa em imagens e sons (ou silêncio) o que foi organizado no roteiro e na percepção do diretor, ou da produção. as discussões difíceis e sem fim sobre a validade e a adequação das adaptações de livros para o cinema levam a uma oposição do tipo literatura x cinema, que dão a falsa idéia de que a literatura possa ser substituidapelo cinema ou vice-versa.

cinema e vídeo não são literatura – são linguagens diferentes do texto escrito. vc nunca irá ver um filme que foi baseado em um livro exatamente igual a ele, ou como vc o imaginou. isso é que torna as adaptações frustrantes e os leitores dos livros tão críticos em relação ao filme. um filme não é um livro, UM FILME É UM FILME. são linguagens diferentes, tempos diferentes de apreensão, formas de emissão, recepção e fruição particulares de cada um! quer ver um filme fiel a um livro? vai ter que ficar mais de uma semana vendo o filme… e vc num vai ver atores e trilha sonora desfilando pela tela, não, vai ficar vendo as páginas que foram filmadas. não seria entediante?

cinema é tempo, é síntese (não retirando sua complexidade enquanto narrativa e fábula). mas, e principalmente, cinema envolve outros fatores extrafílmicos, o dinheiro, por exemplo.

uma linguagem não pode submeter outra. podemos conversar aqui e falar de interação, relação entre ambas, mas não de superioridade. o livro trabalha com palavras e expressões, e tem no material físico papel seu meio de transmissão e difusão (hoje há os novos meios de difusão da literatura, a web, por exemplo); o filme é imagem, som e uma série de elementos organizados, e tem na impressão das imagens em um filme fotosenssível o seu meio de transmissão.

só esse fato já garante um leque enorme de diferenças entre as duas linguagens.

e por que pra muitos o filme tem que ser fiel ao livro que o originou? uma adaptação não é uma adaptação? o próprio nome diz: ADAPTAÇÃO. vc vai pegar um referencial e o adaptar a outro tipo de suporte, ora. é simples!

cinema é síntese pq envolve dinheiro tb, e além do mais, ninguém iria conseguir ficar numa sala de cinema assistindo páginas de livro passando na tela. no filme, quando harry potter recebe apenas um berrador do ministério da magia para lhe informar que foi expulso de hogwarts por ter usado, pela 2ª vez, magia na frente dos trouxas, não há perda de sentido algum no percurso da história. no filme harry recebe uma única carta; no livro são várias as cartas que ele recebe. gente, isso não altera de forma alguma o sentido que se quis dar à cena ou ao filme como um todo. foi preciso fazer isso porque seria dispendioso gastar dinheiro com horas de filmagem, ilha de edição, computação gráfica, equipe, atores, etc., além dessa economia dar dinâmica à história. enfim, uma cena demora muito mais tempo do que o que aparece em tela e tempo em cinema, além de dinâmica e linguagem, quer dizer dinheiro.

poderíamos fazer uma comparação com o roteiro, que parece ser o que está mais próximo da coisa escrita. erro! é uma linguagem completamente diferente, não é um livro. o livro é outra coisa. às vezes o cara faz não sei quantas revisões convidando gente diferente pra ajudá-lo. é um trabalho coletivo, enquanto a literatura me parece ser um trabalho solitário. quando se vai pra um set de filmagem a coisa não muda de cara, vai ter palpite do diretor, do maquiador, do fotógrafo… aprende-se a trabalhar em equipe.

cada leitor vai ver um filme na cabeça quando lê o livro, imagina a cara do personagem. dai tem uma hora que o diretor vai ter que chamar um ator e muita gente vai dizer que não é assim que imaginava o personagem. ora, foi uma escolha de quem estava à frente da produção, assim como é uma escolha imaginar o personagem ao ler um livro.

palavra e imagem: duas linguagens que geram códigos distintos, que expressam visões de mundo de maneira diferente.

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